Existem atualmente duas grandes referências de normalidade para os valores séricos de Vitamina 25 (OH)D, ambos com origem nos E.U.A.: os do Institute of Medicine (IOM), publicados em 2011 (1),que consideram como normais valores superiores a 20ng/ml e os da Endocrinology Society (2), que defendem como normais valores acima de 30 ng/ml. A diferença não é grande: aos valores discrepantes – 20 a 30 ng/ml – a Endocrinology Society atribui a designação de “insuficiência”.
É importante notar que estes valores de referência devem entender-se como valores desejáveis, do ponto de vista biológico, e não como uma normalidade de base estatística. Na verdade, não seria adequado usar uma base meramente estatística quando se sabe que a prevalência da carência de Vitamina D é tão elevada na população em geral. O que ambas as entidades procuraram foi estabelecer valores mínimos que garantissem a homeostase dos sistemas dependentes de vitamina D.
O IOM considera no seu relatório, que vários estudos demonstram que níveis séricos de 25OHD inferiores a 12 ng/ml (30 nmol/L) estão associados e efeitos negativos: aumento de risco de raquitismo, alteração da absorção de cálcio (em todos os grupos etários), diminuição de densidade mineral óssea (crianças e adolescentes), aumento de risco de osteomalácia e aumento do risco de fratura em idosos. Por outro lado, considerou não haver evidência de que estes indicadores melhorem para valores de 25OHD acima dos 20 ng/ml( 50 nmol/L).(1)
Com base nestes dados, e considerando já a variabilidade das necessidades biológicas entre indivíduos, o IOM definiu como Ingestão Diária Recomendada (Recommended Dietary Allowance – RDA), (suficiente para satisfazer as necessidades de pelo menos 97,5% da população) a dose de 800 UI/dia, o que conduz a níveis séricos da ordem de 20 ng/mL (~50nmol/L). (3)
É de realçar, que estes valores definidos pelo IOM, baseiam-se apenas no efeito da Vitamina D na saúde óssea, não tendo sido considerado outros potenciais benefícios.
Em resumos, os valores de referência para níveis séricos de Vitamina D, de acordo com o IOM são: Risco de Deficiência <30 nmol/L (12ng/mL), Risco de Níveis inadequados: 30-50 nmol/L (12-20 ng/ml); Normal: ≥50 nmol/L (≥20 ng/ml). (4)
A posição da Sociedade de Endocrinologia baseia-se em dados epidemiológicos que evidenciam benefício para a saúde em associação a níveis séricos de 25OHD >30ng/mL (70 nmol/L), incluindo diminuição do risco de quedas, melhor adesão dentária, menor risco de neoplasia colo-retal, melhoria da depressão e bem-estar. (5) Ao contrário do IOM, esta Sociedade considera existir evidência de um aumento de risco de fratura quando os níveis séricos de Vitamina D são inferiores a 30 ng/mL. Como argumento adicional, a Sociedade de Endocrinologia indica que os níveis de Parathormona (PTH) aumentam com níveis baixos de 25OHD, atingindo um plateau quando valores de Vitamina D atingem os 30ng/ml. Observa-se comportamento semelhante, ainda que inverso, com a calcémia.
Desta forma, a Sociedade de Endocrinologia define como valores de referência para a 25 OHD séria os seguintes: Deficiência severa <10 ng/mL, Deficiência moderada <20ng/mL, Insuficiência: 20-29 ng/mL, Normalidade: 30-100 ng/mL (2). Só se consideram excessivos, valores superiores a 100ng/mL o que só ocorre com doses diárias muitíssimo elevadas e prolongadas.
Coimbra, 24 de maio de 2018
Cátia Duarte
José António P. Da Silva
Referências
1. Institute of Medicine Committee to Review Dietary Reference Intakes for Vitamin D, Calcium. The National Academies Collection: Reports funded by National Institutes of Health. In: Ross AC, Taylor CL, Yaktine AL, Del Valle HB, editors. Dietary Reference Intakes for Calcium and Vitamin D. Washington (DC): National Academies Press (US). National Academy of Sciences.; 2011.
2. Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney RP, et al. Guidelines for preventing and treating vitamin D deficiency and insufficiency revisited. The Journal of clinical endocrinology and metabolism. 2012;97(4):1153-8.
3. Manson JE, Brannon PM, Rosen CJ, Taylor CL. Vitamin D Deficiency – Is There Really a Pandemic? The New England journal of medicine. 2016;375(19):1817-20.
4. Ross AC, Manson JE, Abrams SA, Aloia JF, Brannon PM, Clinton SK, et al. The 2011 Dietary Reference Intakes for Calcium and Vitamin D: what dietetics practitioners need to know. Journal of the American Dietetic Association. 2011;111(4):524-7.
5. Vieth R. Why the minimum desirable serum 25-hydroxyvitamin D level should be 75 nmol/L (30 ng/ml). Best practice & research Clinical endocrinology & metabolism. 2011;25(4):681-91.